domingo, 1 de maio de 2011

Sobre o filme "Quebra de Xangô". - 1º período.

“Quebra de Xangô”

“Quebra de Xangô”, como o próprio nome do filme profere, trata-se da quebra dos terreiros em 1912 no contexto histórico alagoano, ou seja, a repressão, praticada por uma parte considerável da sociedade alagoana que representa em grande número a religião católica, sobre as práticas africanas no estado. Há no documentário uma ênfase do ano em que essa repressão ocorreu, na verdade, quando e como ela se iniciou.


Em 1911, o estado de Alagoas estava sendo governado por Euclides Malta, um fator relevante para entender a quebra. Nesse período, o governo Malta sofria o ataque da oposição de Fernandes Lima que o acusava de envolvimento com a feitiçaria. A população do estado não admitia a prática africana, e uma figura de destaque nessa prática se chamava Tia Marcelina. Ela defendeu Euclides Malta, mas embora existisse essa defesa, ainda perdurou a lacuna se havia ou não ligação entre os dois. Com esses acontecimentos, surgiu a forte chance de Fernandes Lima ocupar o cargo de governador, e foi realmente o que se sucedeu.


Com o novo governo, a repressão e a perseguição nos terreiros aconteceram, como se já não bastasse a reprovação por parte da sociedade. A política alagoana dificultou a explicação do Xangô, do Candomblé e de outras práticas similares, e a opressão dessa explicação cultuava e intensificava ainda mais a idéia da fé cristã: de quê as cerimônias afro-brasileiras estavam ligadas ao demônio. São claros os resultados dessa quebra, e que estão refletindo nos dias atuais: o “olhar torto” ligado a uma aceitação, ainda assim, preconceituosa. Uma repulsa, talvez, conseqüente da política e da cultura dotadas de velhos hábitos já construídos e cultivados, fortemente enraizadas no país, mas ao se tratar do contexto das práticas afro-brasileiras: principalmente em Alagoas e Pernambuco. Ao conduzir esses fatos para o século XXI, houve uma mudança, mas uma mudança negativa. E que é muito bem retratada no documentário. Essa mudança negativa pode ser explicada da maneira como os praticantes do Candomblé ganham destaque na cena cultural: através do carnaval (do que se entende por “carnaval moderno”), ou seja, onde as pessoas dos terreiros só possuem liberdade de aparecer e mostrar sua escolha religiosa como brincantes do carnaval, roupas que fazem parte da identidade deles, agora, como fantasias. Esclarece assim, que a elite alagoana não assimila a cultura popular, e que, na verdade, ao aceitá-la faz dela uma piada carnavalesca, folclórica.


O documentário trata o acontecimento histórico com bastante cuidado e com preocupações social e política, preocupações, aliás, dificilmente retratadas pelos meios de comunicação. Portanto pode-se definir que, o filme é de um valor documental raro, essencial para compreender a História Alagoana e quebrar, não o Xangô, mas o preconceito que diariamente a sociedade exerce sobre essas religiões.

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